quinta-feira, agosto 31, 2006

...e assim falava Mefistófeles

Mais um tesouro do rock brasileiro cujas pegadas quase desapareceram no tempo. O bando lançou apenas este álbum (baixe aqui) e acabou se desfazendo. A bolacha abre com ...e assim falava Mefistófeles, que soa perfeita para uma daquelas cenas de perseguição em pornochanchadas dos anos 70. Se isso te desanimou, calma aí.
O LP tem coisas muito boas, especialmente alguns covers, como
Disparada, de Geraldo Vandré e Théo de Barros, que ganhou, ao lado de "A Banda", de Chico Buarque, o 2o Festival da Canção da TV Record, em 1966, pela garganta privilegiada de Jair Rodrigues.
Conforme define o Senhor F, O bando ..."misturou MPB, música regional e pitadas de psicodelia. Em 69, lançou seu único álbum, com arranjos dos maestros Rogério Duprat, Damiano Cozzela e Júlio Medaglia. Em clima tropicalista, cantam Jorge Ben, Caetano Veloso e os novatos gaúchos Hermes Aquino e Lais Marques. Integravam O Bando, Diógenes, a cantora Marisa Fossa (que depois gravou com Duprat), Américo, Dudu, Emílio, Paulinho e Rodolpho."
Paralelamente à boa seleção musical, outro ponto forte do longplay são os arranjos. Além das referências citadas acima, eu destacaria ainda uma pegada black, que ganhou consistência na primeira metade da década que estava prester a se iniciar.
Ainda no trabalho solo, eu chamaria a atenção para
Fossa Boboca. O Hit começa com um solo (totalmente dispensável) de bateria, que parece não levar a lugar algum. E quase não leva mesmo, mas a música acaba tomando corpo com a entrada de um piano dramático, meio ao estilo "Ball and Chain", da Janis Joplin, para desaguar em seguida uma canção de melodia bem bacana. O trabalho vocal dessa faixa lembra muito o espírito dos Festivais, cuja influência é total nessa obra do Bando. (arnoldo)

P.S. Para aqueles que se perguntaram: 'afinal, quem é Mefistófeles ?', aqui tem algumas pistas .

quarta-feira, agosto 30, 2006

A vitrola do vovô

Aproveitando que o assunto aqui é velharia - com todo respeito aos jovens tesouros lindaços que andam por aqui -, preciso dar meu depoimento. Tem gente que acha que quem nasceu em 1985, além de serem um afronto aos que vieram ao mundo por volta de 1970, não conheceram nem orelhão com ficha.
Prova de que eu conheço vitrolas são as passagens de ano novo na casa do meu avô. O Seu Nenê ainda tem lá, linda e bela, uma vitrola "três em um". Lindona, num móvel adaptado a ela, tá lá. E por lá já passou muito disco bom que me cheiram infância. Meu natural desinteresse por nomes, datas e origem das músicas quando tinha por volta de cinco anos me impendem de citar exatamente o que rolava por lá. Sei que tinha muito Robertão, mas o mais legal era um disquinho com músicas do Palmeiras. Acho que é graças a isso que eu sei pelo menos o começo do hino do verdão até hoje.
Voltando aos dias de ano novo que citei no início, o vovô tinha um disco ótimo com músicas que comemoram a chegada de novos 365 dias. Tem uma música, das mais engraçadas, em que um homem grita "Atenção, pessoal! Tá chegando a meia-noite". E não foi só em um reveillon que eu ouvi essa música...
Em junho eram comuns os discos de festa junina e em dezembro os de Natal. O nono realmente gosta de comemorar essas datas. Além destes, ainda tem por lá uns discos de novelas da Globo (como da Locomotiva, se lembram?), Creedence e Simon & Garfunkel, o preferido da minha mãe até hoje.
Apesar dessa minha ligação afetiva com os bolachões, minhas lembranças tem muito mais a ver com os valores que o meu avô sempre teve, essas coisas pequenas, como colocar um disco que tenha a ver com a época, que davam uma graça especial de estar lá com ele. Quanto a mim, espero poder guardar vários mp3 legais pra mostrar pros meus netinhos. Isso pra que quando os amigos mais velhos deles tirarem sarro, dizendo que eles não chegaram a conhecer aquela velharia do iPod, que eles possam falar que a vovó tinha uns arquivos bem lôcos nessa geringonça, que já vai estar bem ultrapassada quando isso acontecer.

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Estava eu terminando este post quando Sílvio Santos coloca no ar a dupla Deny e Dino. Muito bem colocados no palco, trocando de lugar entre direita e esquerda num molejo incrível, trajando calças e jaquetas de couro, a dupla cantou o hit "Coruja", com os sensacionais versos "coruja é a indiferença de um brotinho encantador / coruja é um nome feio que nos causa até tremor / coruja agora sei por que não olhas pra mim / é conseqüência de um orgulho sem fim, sem fim".

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Rebequinha

Heim? Vi-tro-la!!!

Aqui, a gente faz o que pode pra facilitar a sua vida. MP3, videozinho, contatos no Soulseek e o escambau. Mas, talvez, você queira mesmo é tirar a poeira daqueles velhos discos de vinil que comprou ainda nos tempos da Jovem Guarda, ou roubou da casa dos seus pais, pensando em vender no sebo pra beber umas cervejas e que acabou esquecendo num canto da república. Nesse caso, é provável que o problema, então, seja a falta de um equipamento adequado para escutar os velhos bolachões. Rebequinha, nossa webmiss de 20 aninhos, por exemplo, só conhece os tradicionais aparelhos três em um por fotografias. Pra quem prefere a tecnologia analógica, aqui vão alguns endereços onde encontrar vitrolas à venda, por precinhos camaradas: Mercado Livre, Arremate, Superdownloads e Comprar.art.br.

(morto)




No Sub Reino dos Metazoários

Tá difícil passar um dia sem escarafunchar alguma pérola no Brazilian Nuggets. O craque do dia é Marconi Notaro, que gravou em 1973, em Recife, a obra-prima 'No Sub Reino dos Metazoários'. Pode parecer exagero, mas me senti ouvindo uma ancestral do Chico Science da Era Mesozóica (aliás, pra quem quiser saber o que é Metazoário...)

Conforme define bem o Senhor F, "...Ultra-psicodélico em alguns momentos, o disco abre com o samba 'Desmantelado' (composto por Notaro em 1968, nos áureos tempos do Teatro Popular do Nordeste), com o regional formado por Notaro, Robertinho de Recife, Zé Ramalho e Lula, entre outros. A segunda faixa, 'Ah Vida Ávida', com 'Notaro jogando água na cacimba de Itamaracá', mais Lula na 'cítara popular' e Zé Ramalho na viola indicam o que vem a seguir, um misto de alucinada psicodelia com pinceladas da mais singela música popular, como o frevinho 'Fidelidade' (... 'permaneço fiel às minhas origens, filho de Deus, sobrinho de Satã' ...)".

"Fidelidade" (aqui), por sinal, foi o tesouro que eu mais gostei, mas o álbum todo tem coisas bacanas. Os efeitos psicodélicos nos arranjos de viola dão um toque "acitarado" (humilhei agora) no som como um todo. Vale a pena baixar a bolacha. Muitos blogs, como o Br Nuggets, dão acesso. Como este zip disponível no Vinil Velho.
(arnoldo)

P.S. Já que Jota Peene havia citado o Mombojó logo abaixo e a cena recifense continuou em pauta, fica a dica pra ouvir a faixa Novo Prazer, do novo disco dos moleques, o "Homem Espuma". Nesta era em que os comedores de pastilhas caminham livremente sobre a terra, o tema pode virar até hino de uma geração.

terça-feira, agosto 29, 2006

Escuta essa, lindaço

Quem viu o programa Ídolos, do SBT, conhece bem a figura. Arnaldo Saccomani, o jurado que fazia o papel de mala. O cara chato que chamava os candidatos de “lindaço” antes de detoná-los impiedosamente. A personificação do mau humor.
Ele virou estrela de televisão agora, mas tem uma longa ficha de serviços prestados à música brasileira, como produtor e compositor. O currículo dele no Cliquemusic apresenta composições suas gravadas por gente como Jane Duboc, Fat Family, Pepe e Neném, Negritude Jr. e Bonde do Tigrão. Nessa entrevista, ao jornal do bairro onde mora, ele próprio explica o que o levou a trabalhar com artistas tão diferentes entre si (e de quebra revela que é de sua autoria o hit maior do Placa Luminosa, aquele do refrão “Nosso amor é lindo/tão lindo”).
Um dos grandes discos da história da psicodelia cabocla – o Ronnie Von de 1968, que traz o clássico “Silvia 20 Horas Domingo” – tem a participação ativa de Saccomani. Ele compôs 6 das 12 músicas, incluindo a libertária “Anarquia” (é bom lembrarmos que 1969 começou sob a mão de ferro do regime militar, que acabara de promulgar o AI-5). A canção andou sendo executada ao vivo pelos rapazes do Mombojó, que nem eram nascidos quando ela foi composta.
O disco é uma obra única na discografia brasileira. Não vou me estender sobre ele, por falta de competência e porque outros já o fizeram – leia aqui a análise de Marcelo Birck sobre a obra, que é bastante fácil de encontrar no Soulseek.
Para ouvir “Anarquia” na voz do Ronnie Von, faça o download aqui. A cover do Mombojó está aqui. Escute que vale a pena, lindaço. (jota peene)

PS: A lindaça da foto é a Ligia, a maior revelação do Ídolos. Não, ela não canta. Ela apresentou o programa. Além de ser muito bonita, a Ligia é uma ótima apresentadora.

Clipe do Robertão

Olha que coisa mais linda....



arnoldo

Cenas de "Diamante Cor-de-Rosa"

segunda-feira, agosto 28, 2006

Amigo de fé, irmão camarada

O bom e velho amigo de fé e irmão camarada, Erasmo Carlos, também deve marcar presença no repertório de Os Tesouros. Entre as possibilidades já cogitadas estão "Sou uma criança, não entendo nada" e "Sentado à beira do caminho".
Outras sugestões serão bem-vindas. Quem quiser refrescar a memória pode visitar o site do Tremendão, onde estão disponíveis biografia, discografia, filmes, vídeos, fotos e entrevistas, além das letras das músicas. É uma brasa, mora?
(morto)

UHF em banda larga

A MTV Brasil lançou no fim de semana um canal para usuários de banda larga, o MTV Overdrive.
A iniciativa é bacana, e especialmente tocante para a geração que, no início dos anos 90, precisou comprar uma antena de UHF para pegar o canal, que tinha um sinal sofrível.
O problema do Overdrive não é o sinal, que é bastante estável. É o repertório, bastante limitado. E o excesso de proteção dos direitos autorais dos clipes – eu precisei clicar três vezes para aceitar a licença e poder ver cada vídeo.
Se eu tivesse procurado por eles no youtube, certamente teria achado. E não teria sido chateado com confirmações repetitivas, embora eu os teria visto com qualidade inferior e com os "soquinhos" tradicionais do Youtube.
Se você quiser experimentar a brincadeira, recomendo um vídeo do acervo: E-bow the Letter, do REM. Com participação da Patti Smith. É lindo de morrer.
(jota peene)


MINHA MENINA



A primeira canção do repertório já começou efetivamente a ser tirada neste final de semana. Jota, por enquanto acho melhor trabalharmos com a original mesmo, no bom e velho português. Assim que ficar minimamente razoável eu libero uma versão garagem aqui no blog.

arnoldo

Segue a letra para os fãs (sorry, periferia, ainda não sei liberar direto pro Download por aqui, mas tem tudo lá na pasta OS TESOUROS, no meu nick do Soul Seek).

Ela é minha menina/E eu sou o menino dela/Ela é o meu amor/E eu sou o amor todinho dela/A luz prateada se escondeu/E o sol dourado apareceu/Amanheceu um lindo dia/Cheirando a alegria/Pois eu sonhei/E acordei pensando nela/Pois ela é minha menina/E eu sou o menino dela/Ela é o meu amor/E eu sou o amor todinho dela/A roseira já deu rosas/E a rosa que eu ganhei foi ela/Por ela eu ponho o meu coração/Na frente da razão/E vou dizer Pra todo mundo/ Como gosto dela/Pois ela é minha menina/E eu sou o menino dela/Ela é o meu amor/E eu sou o amor todinho dela/A lua prateada se escondeu /E o sol dourado apareceu/Amanheceu um lindo dia/Cheirando alegria/Pois eu sonhei/E acordei pensando nela/Pois ela é minha menina/E eu sou o menino dela/Ela é o meu amor/E eu sou o amor todinho dela

No Nepal tudo é barato

Olha, pode ser que o Umas e Outras seja uma invenção pilatrópica do Nélson Mota, mas a banda tem umas pérolas de arrancar lágrimas dos olhos. Estava ouvindo hoje esse clássico "No Nepal tudo é barato" (aqui). Linda de morrer....

No Nepal tudo é barato
No Nepal tudo é muito barato
No Nepal tudo é barato
No Nepal tudo é muito barato

No Nepal existe uma praça
Onde fica um monte de dinheiro
Quem precisa tira o que precisa
E quem ganha bota lá de novo
Lá não tem problema financeiro
E o povo é sempre muito ordeiro
No Nepal a juventude canta
E cultiva flores de outras terras
Pinta o corpo de todas as cores
E procura sempre as coisas certas
No Nepal o casamento é livre
E os sinais das ruas sempre abertos
No Nepal o ar é cristalino
E a verdade vem dentro dos ventos
E o carinho rende juros fortes
E o povo vive só de rendas
Eu te convido, companheira amada
A fugir para o Nepal comigo
(Fredera/Frederyko)

arnoldo

sábado, agosto 26, 2006

Pode me chamar de ice cream



Tem gente que não bota muita fé no ser humano. Mas é preciso admitir que essa raça atinge momentos de altíssima sensibilidade, entre um ímpeto de autodestruição e outro. Afinal, foram homens e mulheres que construíram Brasília (a foto é do Marcel Gautherot), escreveram a Declaração Universal dos Direitos Humanos e inventaram a feijoada. Até o Alceu, que aparentemente não é um sujeito muito privilegiado, conseguiu fazer sua obra-prima.

A Joyce também não parece ser das figuras mais brilhantes da humanidade. Nasceu bossanovista, um pecado de origem praticamente imperdoável, e ganha a vida até hoje no circuito internacional do ritmo “brasileiro”. Hoje ela faz mais “sucesso” lá fora do que aqui, após um breve período de popularidade, nos anos 80.

A carreira deu um salto lá fora no início da década de 90, a partir do momento em que algum infeliz resolveu adicionar uma pitada de música eletrônica à bossa nova. Uma praga que está aí até hoje em qualquer sala de espera “modernosa”, mas eu não estou aqui pra falar do lado decadente da Joyce.

Muito antes de entregar os pontos e fazer bossa pra japonês ouvir, ela pegou o violão (ou o caderninho, sei lá), e escreveu um clássico absoluto, “Abrace Paul McCartney por Mim”. É um ponto totalmente fora da curva de sua carreira de compositora, que para dizer bem a verdade eu conheço superficialmente e não tenho lá grande vontade de me aprofundar.

Curiosamente, Joyce não gravou esse tesouro – pelo menos as discografias disponíveis dela (aqui e aqui) não registram que ela o tenha feito. Conheço duas versões: a de Evinha, absoluta, de 1970; e a do grupo-armação Umas e Outras (forjado por Nelson Motta, que como se vê faz MUITO tempo que engana nesse ramo), também de 1970.

A letra é simples, comovente. Uma moça de coração partido. Talvez porque o noivo tenha partido para Londres. Uma garota que tem a grandeza de espírito de chamar seu amado de “ice cream” (eu não teria ido pra Inglaterra, sinceramente). E que pede pra ele dar um abraço no Paul McCartney, já que tudo está perdido mesmo...

A letra ("tirada" por mim, desculpe qualquer incorreção) segue abaixo. Os arquivos são fáceis de achar no SoulSeek. Pra quem não usa o software mais bacana que a humanidade (sempre ela...) já inventou, baixe por a da Evinha aqui e a do Umas e Outras aqui. (Jota Peene)

Abrace Paul McCartney por Mim (Joyce)

Sinceramente eu queria
Sem outra intenção
Me lembrar do que quase esqueci
De como vai você
Se mudou
Ou se você ainda usa a mesma calça Lee

Meu amor, meu ice cream
Abrace Paul McCartney por mim

Eu por enquanto vou bem
Viajando no espaço
E às vezes lembro de você
E por que não dizer?
Sou feliz
Quase feliz
Da maneira que a gente quis ser

sexta-feira, agosto 25, 2006

Em busca do hit perdido

Os Tesouros não têm saudade. Simplesmente porque não viveram aquela época. Eles são jovens – já foram mais, é verdade – e gostam de músicas velhas que falam do futuro. Ou que falem de amor. Ou que falem da vida. De preferência, com algumas camadas de guitarras, alguma gritaria e muita despretensão.
É o bom e velho rock’n’roll. Mais do que isso: é o bom e velho rock’n’roll feito num país distante, longe demais das capitais. Numa época sombria, pesada. Sem boas guitarras, sem bons estúdios, sem dinheiro. Com alguns discos importados dos Beatles como matriz e nada mais. Contra a patrulha da esquerda e o desdém da direita.
O Brasil do final dos anos 60 acabou faz tempo. Que bom. Não sobrou nem rastro dele, a não ser alguns discos riscados. Que a gente vai colocar pra tocar.

BEM VINDOS

Sabe aquele chavão de que rock só se canta em inglês e não dá pra fazer samba em alemão? Pois quem fala esse tipo de besteira nunca ouviu obras-primas do tipo “Meu amor, meu Ice Cream, abrace Paul McCartney por mim”, “Eu tenho uma camiseta escrita ‘eu te amo’”, "Sílvia 20 horas domingo", ou ainda “Felicidade não existe, o que existe são momentos felizes”. O quê? Você nunca ouviu nenhum desses hits? Então seja bem-vindo a OS TESOUROS.