sábado, outubro 14, 2006

Cabelo ao vento, gente jovem reunida

Em um rápido salto de dez anos em relação ao post anterior, chegamos a um dos compositores mais "papo firme" dos anos 70, o Belchior. Fiz essa versão aqui de Como Nossos Pais, de 1976, que acaba soando bem macarrônica, já que é difícil escapar dos exageros vocais que marcam a versão original do autor. Quem conhece um pouquinho de música sabe que a marca registrada do Belchior é enfiar frases com tamanho três vezes maior que o suportável em um mesmo compasso. Ele pode exageram às vezes, mas ainda estão para ser escritos na MPB tesouros como "Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida/Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais". É de arrepiar :-))
Como Nossos Pais é um dos hits de "Alucinação" (baixe aqui), provavelmente o trabalho mais inspirado da carreira do Belchior. O Álbum é tão bom que serviu de base para "Falso Brilhante", na minha opinião o melhor disco da Elis Regina. Por conta do sucesso do disco, a versão dela acabou se tornando a "definitiva". Não fui muito feliz em uma primeira busca da bolacha no Soul Seek, mas assim que conseguir eu deixo aqui para download.

As aparências não enganam não
Ouvir Belchior na voz da Elis dá saudade do tempo em que a música brasileira tinha grandes cantoras para interpretar grandes compositores. É melacólico constatar que, em vez de fazer "Como sua mãe" e ousar na busca de coisa nova no cenário musical, Maria Rita tenha se contentado ao papel de "Big Mac" da vez da indústria fonográfica, destinada a virar DVD de fim de ano, desses bons para dar de presente de amigo secreto da "firma". Pena mesmo, para quem tem um gogó com tamanha herança genética. Mas chega de saudosismo barato pois, como diria o Belchior, "o novo sempre veeeeeeem....."

Como Nossos Pais
Não quero lhe falar meu grande amor das coisas que aprendi nos discos
Quero lhe contar como eu vivi e tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa
Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa
Por isso cuidado meu bem, há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens
Para abraçar seu irmão e beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz
Você me pergunta pela minha paixão
Digo que estou encantada com uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade, não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento o cheiro da nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva do meu coração
Já faz tempo eu vi você na rua, cabelo ao vento, gente jovem reunida
Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói mais
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais
Nossos ídolos ainda são os mesmos e as aparências não enganam não
Você diz que depois deles não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer que eu 'tô por fora', ou então que eu 'tô inventando'
Mas é você que ama o passado e que não vê
É você que ama o passado e que não vê
Que o novo sempre vem
Hoje eu sei que quem me deu a idéia de uma nova consciência e juventude
Tá em casa guardado por Deus contando vil metal
Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo, tudo o que fizemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Nós ainda somos os mesmos e vivemos
Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais

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